sexta-feira, 15 de junho de 2012

Capítulo Um

01 Fevereiro, ano de 2000

Acho que em fevereiro fez quatro meses em que você estava na cidade . 
Dia primeiro de fevereiro do ano de dois mil, o dia em que eu parei de tomar sorvete todos os dias.
Bom , você fez uma diferença enorme todos os dias em minha vida, desde que apareceu nela, agora eu tinha com quem brincar, conversar, correr, e tudo o que uma criança pode ter direito.
Brincar com seu irmão mais velho ,e quando eu digo brincar , quero dizer receber cascudos e dinheiro pra fingir que ele cuidava ou brincava comigo enquanto saia para andar de skate e fazer as coisas que os adolescentes faziam, era tudo muito chato. Não é comum crianças de dez anos possuírem amigos imaginários , bom eu tinha.
Esse dia foi muito marcante para mim , apesar de só perceber isso agora. Superar a morte da minha avó, e chorei de luto por Barney . 
Sim , o nome dela era Barney , mas ele não era um dinossauro roxo com manchas verdes.
Mas foi desse show que o nome surgiu , e eu também tinha o boneco do Barney.
Barney era um fantasma camarada, foi assim que eu o imaginei. Ele também era ruivo , e também usava óculos redondinho. Ele era eu , numa versão masculina , um alienígena para me fazer par.
Ele foi o meu primeiro melhor amigo, enxugou minhas lágrimas , me contou histórias para dormir , e brincou comigo.. Mas o que acontece com um amigo , quando você não precisa mais dele ?
Ele desaparece. Nesse dia eu não me dei conta que Barney havia desaparecido. Eu ainda não estava preparada, mas a mente prega peças em você .
Você e eu brincamos o dia todo, era uma segunda , mas nós estávamos de férias. 
Quando chegou o final da tarde , mais ou menos as cinco horas, eu havia aprendido com a televisão que as cinco era pontualmente a hora do chá inglês, e como nenhuma criança gosta de chá, essa foi a hora que eu escolhi para tomar sorvete todos os dias, depois da morte da vovó.
Só que pela primeira vez , eu esqueci , e você também . Minha mãe lembrou pois já estava acostumada ,mas quando veio me chamar na casa do Dudu, percebeu que a dor havia sumido , e deixou de lado.
Você tomou quatro meses de sorvetes caseiros de variados sabores comigo, todo santo dia. 
Não nesse. A noite quando fui me deitar , não percebi que não havia lembrado nem de vovó , nem de sorvete e nem do Barney . Dormi sem pesos na consciência. 
Passou uma semana e eu não havia percebido , até o dia em que você e seus pais , foram passar o final de semana com a avó de Dudu e eu estava sozinha.
Quando chegou as cinco horas eu percebi que havia esquecido do sorvete , da vovó e de Barney , comecei a chorar . Mamãe me pegou no colo e percebendo meu desespero , não disse nada , só me fez carinho.
Depois de um tempo ela disse :
- Não tem nada de errado nisso, já estava na hora de você aprender que nem tudo dura pra sempre , e que sorvete nem sempre melhora tudo, a vida se melhora por seus atos próprios querida , não se esforce muito, deixe acontecer. -
- Quando você diz atos próprios que dizer o que eu faço mamãe ? - 
- Sim , suas escolhas ..-
- Sorvete não melhora tudo mãe ? -
- Não querida, não melhora ..-
- E nada realmente dura para sempre ? -
- Infelizmente não .-
Ela ficou séria e triste , bom eu também..
Passei o final de semana procurando por Barney e ele não apareceu nem por um segundinho se quer.
Quando finalmente deixei a teimosia de lado , não pude deixar a lembrança e nem o sentimento que criei por Barney ser esquecido, organizei então algumas coisas , lembranças apalpáveis que eu e Barney "fizemos juntos" coloquei em uma caixa branca de sapatos , com uma caneta preta e grossa escrevi Barney , e colei uma estrela dourada em cima de seu nome. Coloquei a caixa de sapatos na parte alta do guarda-roupas e deixei minha mente infantil esquecer temporariamente Barney , O meu primeiro melhor amigo.

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