quinta-feira, 21 de junho de 2012

Capítulo Um

Nos próximos três dias depois que ouvi a conversa , fiquei esperando que você viesse e terminasse a nossa amizade , bom algo que nunca aconteceu.
No terceiro e último dia , eu não estava mais aguentando a angústia e resolvi fazer os atos por minhas mãos.
Fui até sua casa e quando você chegou , eu fiquei sem palavras.
Não podia fazer isso, eu não tinha coragem e nem queria que a nossa amizade acabasse.
Você percebeu meu silêncio e disse :
- O que foi ? -
- Acho que a sua mãe não gosta da nossa amizade .-
- Por que você acha isso ? -
- Ouvi nossas mães conversando de novo, três dias atrás , sua mãe disse que estava preocupada com a nossa amizade , mamãe não respondeu e logo depois a sua mãe foi embora. -
- Eu não acho que ela não goste da nossa amizade , acho que ela só está com medo.-
- Medo de quê ?-
- Medo de quando a minha família se mudar de novo, eu acho. -
- Ah.-
Até então eu não lembrava que você só ia ficar por aqui por um ano. Foi um completo choque .
Senti a alegria indo embora aos poucos, realmente mamãe estava certa , nada dura para sempre.
Tenho sérias impressões que você percebeu minha cara , mas durante um tempo tudo o que você fez foi segurar minha mão. Eu olhei para você .
- Tinha me esquecido disso. -
- Eu também, mas talvez meu pai fique mais que um ano, quem sabe?-
- É , talvez. -
- Amanda ?-
- Oi. -
- Eu nunca tive uma amiga como você. -
- Nem eu Dudu, nem eu. -
Você não soltou minha mão.
- Mamãe está me enchendo com essa bobagem de aniversário . Ela quer dar uma festa .-
- Você não quer uma festa ? -
- Na verdade , não. Ela quer chamar todos os alunos da classe, e bom, você sabe.-
- É eu sei, ela ainda não entendeu né ?-
- Acho que ela entendeu, acho que é mais por aparências. -
- Ah sim. Dudu , o que você vai fazer ? -
- Eu não sei ainda.-
Outro momento de silêncio pairou sobre nós. Você ainda não tinha soltado a minha mão.
A menina ruiva quebra o silêncio com uma palavra mágica seguida por uma interrogação :
- Sorvete ? -
O menino de olhos verdes responde :
- Sempre.-

                                                                  Página Dez

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Capítulo Um

Então já havia seis meses em que eramos melhores amigos.
A temporada de outono havia começado e com ela a temporada da mais nova modalidade esportiva da nossa escola : Baiseball.
Todo ano nossa escola escolhia duas modalidades esportivas estrangeiras . Esse ano os escolhidos foram Baiseball e Dança dos anos 50/60 .
Eu de vestido de bolinhas e você de calças brancas e coladas.
Bom você estava mudando, sua voz estava começando a vacilar, e afinar de vez em quando.
E aos poucos eu fui vendo você passar a se comportar diferente , com algumas poucas mudanças.
Você deve ter crescido uns dois , ou três centímetros até aqui.
Eu nunca vou saber ao certo o que acontece com os meninos nessa época . Desse dia faltavam um mês e meio para o seu aniversário.
Sua mãe disse para minha , que agora você estava entrando em fase de crescimento por isso estava comendo mais que o dobro do que comia antes e isso a deixava bastante orgulhosa.
Eu pensei na mesma hora nas propagandas de Biotômico Fontoura, será que você estava tomando ? Minha mãe me dava, dizia que era por isso que eu era um pouco mais alta do que o resto para a minha idade.
No começo eu até era mais alta que você.
Você era um menino pequeno, então era bom que você estivesse finalmente se esticando um pouco.
Mas fui forçada a sair dos meus pensamentos e voltar a escutar a conversa entre as duas, sua mãe estava "preocupada" com a nossa amizade, e minha mãe não pode dizer nada, você tinha sido meu único amigo. Nesse dia eu não consegui dormir direito, fiquei com medo de que nossas mães cortassem a nossa amizade, elas não podiam fazer isso,nós passávamos quase todo o tempo livre juntos, eu já tinha escrito o seu nome mil vezes no meu caderno , mesmo não sabendo o porquê, mesmo você estando na fileira ao lado, eu simplismente não podia me separar de você. Isso era tão injusto.

                                                            Página nove

terça-feira, 19 de junho de 2012

Capítulo Um

O tempo foi passando e o verão acabando e você e Renato ficaram realmente muito próximos.
Renato começou a ir contra eu brincar as brincadeiras de menino com vocês, por que eu era menina.
No começo nós achávamos que ia ficar tudo bem, que ele ia entender que não importava eu brincar também, mas não foi assim que aconteceu.
Bom , Renato havia sido expulso da outra escola e nós só descobrimos o por quê quando o verão acabou e as aulas voltaram. Renato era mimado, não mimado de amor e carinho como quase toda criança mimada é, ele era super mimado. Tinha tudo o que queria e quando as coisas não davam certo os pais dele faziam de tudo para dar certo. Ele era valentão. Além das meninas patriçocas e dos meninos rabugentos, nós não tínhamos valentões por aqui . Briga era uma coisa rara e bullying quase não existia.
Está certo que para essa regra do bullying eu era exessão , mas elas nunca realmente me fizeram mal, a coisa mais dolorida que alguém já fez comigo foi Lalá que puxava meu cabelo, e bom ela é de outro Estado.
Quando Renato chegou na escola, todos queriam saber quem era o novato, o que ele fazia, por que ele foi expulso , enfim.. Logo ele já era sensação, e foi nesse momento que ele percebeu que eu era o zero a esquerda , e que Dudu estava se afundando junto comigo, só por estar comigo.
A hierarquia estava montada : Renato, Marcelinho e Juca eram os novos valentões; Suzana, Maria , Camila e Alicia , as patricinhas. Entramos no fundamental e foi na segunda semana de aula, em uma quarta-feira, que aconteceu.
Eu estava me arrumando para o Ballet na escola, quando elas chegaram para me perturbar , só que dessa vez foi diferente, elas estavam muito más.. Me assustaram, então saí correndo. Quando saí do vestiário para abrir a porta ,um balde com alguma coisa fedorenta , verde e gosmenta caiu em mim. Eu levei um susto tão grande que não escutei as risadas, mas quando consegui mover meus braços para tirar meu óculos e limpar o excesso de gosma na minha cara , as risadas aumentaram e aumentaram e quando percebi , toda a escola estava lá, rindo de mim. Mas você não.
Eu comecei a chorar ,e fiquei parada , uma estátua de ballet cobrida por gosma.
Você veio , pegou minha mão , e me levou pra o diretor.
Quando você pegou minha mão , Renato gritou :
- Eca Dudu que nojo, você ta pegando na menina de gosma verde! Deixa ela ai Dudu , ela não vale nada.-
- É claro que vale seu bobão, você brincou com ela o verão todo, sabe como ela é legal! -
- Isso foi antes de eu saber que ela é uma alien Dudu, e se você ficar com ela , vai ser um alien também!-
Você passou a mão na minha barriga tirando um monte de gosma , andou até o Renato e disse :
- Bom , então sou um alien , um alien que nunca mais vau falar com você .-
Levantou a mão e passou na testa dele. Ele retribuiu com um soco na cara , e foi nesse exato momento que a professora de ballet e o professor de educação física chegaram para saber do paradeiro dos alunos.
Quando estávamos indo para a sala do diretor você pegou minha mão, olhou para mim e disse :
- Não chora , aliens não choram . -
E no mesmo momento eu parei de chorar e o choro se transformou numa risada , eu disse :
- Não, aliens não choram .-
Você parou , olhou pra mim e disse :
- Eu nunca vou deixar de ser seu amigo, nunquinha da silva . -
Eu abaixei a cabeça, devo ter ficado uma pimenta de vermelha, não disse nada , mas sorri de ponta a ponta.
E assim felizes chegamos e saímos da sala do diretor , mesmo com uma suspensão na mão.

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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Capítulo Um




        Eu achei essa foto que sua mãe tirou um pouco antes de vocês irem para a super festa da Suzana , eu acho que não foi tão super assim dessa vez , né ? 

                                                                     Página sete

Capítulo Um

Eu acho que nunca havia reparado fisicamente em você como reparei naquele dia.
Seus olhos verdes realmente me captaram . Verde já era minha cor preferida ,agora era mais que isso.
Sua pele clara , seu rosto tinha muita bochecha para um rosto tão magro, seu nariz achatadinho, deus dentões, sua boca fina , seu cabelo castanho desgrenhado e um pouco liso , e seus olhos verdes.
Eduardo olhos verdes. Eu te chamava assim em segredo, depois desse dia.
Você tem esse sorriso ridículo que eu odeio . Na época ele me conquistou, e eu nem sabia.
Estávamos brincando quando ouvimos um caminhão barulhento passar e parar no final da rua.
Todo mundo ouviu , a última casa havia sido comprada.
Descobrimos então uma nova família e uma nova criança, outro menino , com a cara emburrada e o queixo quadrado.
Mais tarde descobri sozinha que a nova família veio por que o tal menino foi expulso da outra escola por brigas, também descobri que seu nome era Renato.
No começo gostei de Renato, foi meu segundo amigo. E foi seu amigo também ..
Brincávamos nós três e era tudo bem. Bom não era sempre nós três, na maioria das vezes você passava a maior parte do tempo comigo.
Isso era ótimo , nós tínhamos nossos códigos secretos , nossa casa na árvore e o outro esconderijo secreto.
Nossos pais nunca souberam aonde era . Foram muitos bandidos a serem perseguidos , fantasmas a serem descobertos , muitos , muitos chás e pique-niques a serem engolidos , muitas bilocas perdidas e poucos sorvetes tomados.
O verão estava a todo vapor , e como todo verão sempre existe a famosa festa de aniversário de Suzana.
Eu odiava Suzana. Ela foi a primeira a aderir os ataques de Lalá pois também me odiava.
Nunca entendi o motivo do desprezo dela por mim, mas por causa dele eu criei um certo desprezo por ela.
Suzana era branca , e tinha cabelos pretos e lisos. Um sorriso perfeito e um coração do demônio.
E ela era rica. Isso mudava bastante as coisas.
Ela ia fazer onze anos , antes de Dudu ela era a mais velha da classe.
Você e até mesmo Renato com quem ela havia falado um simples oi, na semana passada haviam sido convidados para a festa. Bom , eu não.
Sua mãe te obrigou a ir a festa com Renato , por que você precisava fazer novas amizades .
Ao menos foi o que você disse , e eu acreditei.
Quando você me contou que chegou lá e viu o tamanho da festa, eu ri.
Ela tinha fama de dar as melhores festas . Você disse que ela era chata . Você tinha razão.
O que eu mais ri na história inteira foi quando você me contou , que ela havia puxado seu braço pra se sentar na mesa junto com o resto da turminha dela, e ela disse :
- Gente esse é meu amigo Dudu.-
E todos disseram oi para você, você ficou olhando feio pra Suzana que não perdendo a vez disse :
- Essa não é a melhor festa de aniversário que você já foi Dudu ? -
- Não . A melhor festa de aniversário que eu fui foi a da Amanda , Suzana , me desculpe. -
Você disse que ela ficou com cara de surpresa e depois ficou chateada e perguntou :
- O que teve de melhor na festa dela que aqui não teve ? -
- A festa da Amanda foi no Parque de diversões , estávamos só eu ela , a prima chata Lalá , o Gui , minha mãe e a Senhora Santos. Suzana , a festa da Amanda estava melhor que a sua por que ela estava lá, comigo. -
E eu nunca soube o que aconteceu depois , eu parei de ouvir depois disso. Acredito que esse deva ter sido o momento que eu percebi que estava me apaixonando por você.

                                                                           Página seis.

Capítulo Um

Quando você chegou na segunda-feira percebeu minha tristeza, sem hesitar perguntou :
- O que foi ?-
Minha família eram as únicas pessoas que sabiam da existência de Barney , e quando digo minha família , falo apenas de Papai , Mamãe e Gui.
Permaneci em silêncio por um minuto, tentando descobrir se deveria contar sobre Barney para você , ou não.
A resposta foi sim.
- Vem comigo. -
Levei você até o local aonde enterrei a caixa de Barney e lá sentamos enquanto eu explicava toda a história para você. Você não disse uma palavra sequer enquanto eu contava tudo, ficou me olhando com aqueles olhos grandes e verdes . Quando eu acabei você ainda continuou em silêncio , tudo o que fez foi me dar o meu primeiro abraço. Bom já tinha recebido abraços antes , mas foram de família.. nunca de amigos.
Eu sorri sem perceber . E você resolveu falar.
- O máximo que você pode fazer é nunca se esquecer realmente dele.-
- Como assim realmente ? -
- Bom, você não precisa ficar lembrando dele o tempo todo da sua vida ,mas as vezes ,poucas vezes .. você se lembra de tudo ,sem nenhum detalhe esquecido,mas tem que ser poucas vezes, por que quem vive de memórias é museu, e museus são tristes, não são ?-
- Quem te disse isso Dudu ? -
- Minha mãe, no dia que meu avô morreu. Nós eramos muito próximos.-
- Ah!... Sua avó está bem ? -
- Ela está doente, mas feliz, disse para mim que não falta muito para ela ver meu avô de novo.-
- Você acredita nisso ?-
- Não sei ainda, mas ela acredita.-
- Se eu morrer antes de você, você ficaria feliz em poder me encontrar lá no céu ?-
- Se eu pudesse, ficaria muito feliz Amanda. Ah é , quase me esqueço! Trouxe um presente para você.-
Ele tirou da mochila, que eu não havia notado a presença, até agora, uma bola de vidro com um menino e uma menina de mãos dadas, um com uma pulseira azul e ela com uma verde. Quando você sacode o globo, as purpurinas que estavam no final sobem e caem lentamente sobre os dois, fazendo assim uma chuva de glitter.
- Ual , é lindo. Onde conseguiu isso ?-
- Meu tio Valter viajou para os Estados Unidos e gostou muito dessas bolinhas. Ai ele entrou numa oficina aonde ensinam a fazer. Ele abriu uma loja de lembranças na cidade da vovó, e eu pedi para fazer essa pra eu poder te dar. Você gostou ?-
- Sim, mais do que isso. -
E com a felicidade retomada, um conselho para ser seguido, e um presente inesquecível, duas crianças foram brincar no jardim. Pensando bem até que eu não era ruim no Futebol.

                                                                 Página cinco.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Capítulo Um

01 Fevereiro, ano de 2000

Acho que em fevereiro fez quatro meses em que você estava na cidade . 
Dia primeiro de fevereiro do ano de dois mil, o dia em que eu parei de tomar sorvete todos os dias.
Bom , você fez uma diferença enorme todos os dias em minha vida, desde que apareceu nela, agora eu tinha com quem brincar, conversar, correr, e tudo o que uma criança pode ter direito.
Brincar com seu irmão mais velho ,e quando eu digo brincar , quero dizer receber cascudos e dinheiro pra fingir que ele cuidava ou brincava comigo enquanto saia para andar de skate e fazer as coisas que os adolescentes faziam, era tudo muito chato. Não é comum crianças de dez anos possuírem amigos imaginários , bom eu tinha.
Esse dia foi muito marcante para mim , apesar de só perceber isso agora. Superar a morte da minha avó, e chorei de luto por Barney . 
Sim , o nome dela era Barney , mas ele não era um dinossauro roxo com manchas verdes.
Mas foi desse show que o nome surgiu , e eu também tinha o boneco do Barney.
Barney era um fantasma camarada, foi assim que eu o imaginei. Ele também era ruivo , e também usava óculos redondinho. Ele era eu , numa versão masculina , um alienígena para me fazer par.
Ele foi o meu primeiro melhor amigo, enxugou minhas lágrimas , me contou histórias para dormir , e brincou comigo.. Mas o que acontece com um amigo , quando você não precisa mais dele ?
Ele desaparece. Nesse dia eu não me dei conta que Barney havia desaparecido. Eu ainda não estava preparada, mas a mente prega peças em você .
Você e eu brincamos o dia todo, era uma segunda , mas nós estávamos de férias. 
Quando chegou o final da tarde , mais ou menos as cinco horas, eu havia aprendido com a televisão que as cinco era pontualmente a hora do chá inglês, e como nenhuma criança gosta de chá, essa foi a hora que eu escolhi para tomar sorvete todos os dias, depois da morte da vovó.
Só que pela primeira vez , eu esqueci , e você também . Minha mãe lembrou pois já estava acostumada ,mas quando veio me chamar na casa do Dudu, percebeu que a dor havia sumido , e deixou de lado.
Você tomou quatro meses de sorvetes caseiros de variados sabores comigo, todo santo dia. 
Não nesse. A noite quando fui me deitar , não percebi que não havia lembrado nem de vovó , nem de sorvete e nem do Barney . Dormi sem pesos na consciência. 
Passou uma semana e eu não havia percebido , até o dia em que você e seus pais , foram passar o final de semana com a avó de Dudu e eu estava sozinha.
Quando chegou as cinco horas eu percebi que havia esquecido do sorvete , da vovó e de Barney , comecei a chorar . Mamãe me pegou no colo e percebendo meu desespero , não disse nada , só me fez carinho.
Depois de um tempo ela disse :
- Não tem nada de errado nisso, já estava na hora de você aprender que nem tudo dura pra sempre , e que sorvete nem sempre melhora tudo, a vida se melhora por seus atos próprios querida , não se esforce muito, deixe acontecer. -
- Quando você diz atos próprios que dizer o que eu faço mamãe ? - 
- Sim , suas escolhas ..-
- Sorvete não melhora tudo mãe ? -
- Não querida, não melhora ..-
- E nada realmente dura para sempre ? -
- Infelizmente não .-
Ela ficou séria e triste , bom eu também..
Passei o final de semana procurando por Barney e ele não apareceu nem por um segundinho se quer.
Quando finalmente deixei a teimosia de lado , não pude deixar a lembrança e nem o sentimento que criei por Barney ser esquecido, organizei então algumas coisas , lembranças apalpáveis que eu e Barney "fizemos juntos" coloquei em uma caixa branca de sapatos , com uma caneta preta e grossa escrevi Barney , e colei uma estrela dourada em cima de seu nome. Coloquei a caixa de sapatos na parte alta do guarda-roupas e deixei minha mente infantil esquecer temporariamente Barney , O meu primeiro melhor amigo.

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